Hifas é um projeto de intervenção que faz alusão aos organismos que estruturam e sustentam a biodiversidade. Concebido pelo duo otropicalista, a obra consiste em produzir colônias de filamentos proliferadas em diferentes espaços do Veras. Trata-se de elementos gráficos interconectados que funcionam como enraizamentos que evocam práticas inventivas confluentes. Ao ampliar formas microscópicas responsáveis por nutrir e agrupar, a um só tempo, noções ampliadas de colaboração e coletividade, a intervenção integra a paisagem do entorno e gera movimentos na arquitetura do Centro Cultural Veras.
As colônias de filamentos proliferadas em diferentes espaços do Veras entrarão em processos expansivos ao longo de um ano. Trata-se de elementos gráficos interconectados que funcionam como enraizamentos capazes de desfazer as origens de um corpo coletivo. Realizado pelo duo o tropicalista para o cruzamento de práticas inventivas confluentes, Hifas é um projeto que consiste em ampliar formas microscópicas responsáveis por nutrir e agrupar, a um só tempo, noções ampliadas de colaboração e coletividade.
Fixadas na transparência de paredes de vidro, as hifas agigantadas são percebidas através. Integram a paisagem do entorno e geram movimentos na arquitetura, imperceptíveis a olho nu. De igual modo, sua monocromia produz silêncios plurais que evocam murmúrios trocados com a paisagem verdejante que a acolhe parcialmente. Nesse sentido, representam uma rede de colaboração entre seres que precisam de experiências subterrâneas para aprender a viver em comunidade. Parecem introduzir a importância de aprofundamentos para regressar à superfície em condições de fixar nutrientes em corpos que deles nascem. Inclusive, quando esses enraizamentos interconectados aderem espaços destituídos de organismos naturais, como é o caso da intervenção realizada no elevador do edifício, Hifas é transformada em uma imagem da força regenerativa que restitui à biodiversidade a ocupação de espaços onde parecia haver lugar apenas para o “igual” e o “mesmo”. Portanto, espelhar-se com esses filamentos equivale a buscar em si a parte de vida que sustenta e edifica desejos e ações capazes de nutrir experiências vitais. Daí considerar os filamentos como a estrutura da biodiversidade, a qual depende de equilíbrio entre umidade, calor, luz, saúde do solo e circulação de ar limpo. O que não ocorre em contextos nos quais a terra é enfraquecida por ondas de calor torrencial e pela monocultura que define a padronização da sociedade. Em tais contextos, partilhar elementos responsáveis pela manutenção de pluralidades é tido como ação estrangeira e estranha. Por isso, a montagem de longa duração no Veras é força contrária à naturalização do individualismo e de seus subprodutos que desfazem elos fundamentais entre o sujeito e suas relações com a diferença e o enigma.
De fato, quando a cegueira imediatista extingue vidas microscópicas e seres indefesos em nome de progresso, cultura e tradição, é preciso se embrenhar em processos coletivos que promovam enraizamento em territórios invisíveis, até torná-los reais e pertencentes aos mundos abertos ao diálogo.