EXPOSIÇÃO

DIEGO DE LOS CAMPOS: FARDO-FÚRIA

O Centro Cultural Veras apresenta a exposição “Fardo-Fúria, de Diego de los Campos, com obras que ocupam o Pavimento Ananda e o Mezanino.

Data: 24 de maio a 2 de agosto de 2025
Horário: Terça a sexta: 14h – 21h | Sábado: 9h – 20h
Local: Centro Cultural Veras – R. Vera Linhares de Andrade, 2064, Córrego Grande, Florianópolis – SC

Entrada gratuita

Diego de los Campos – Fardo-Fúria 

Josué Mattos

Um corpo lançado à própria sorte é refém de movimentos acionados pelo botão de comando ao qual está conectado. Feito um fantoche caído ao chão, a figura de papel, nua, tem escala de pessoa adulta. Alheia ao próprio desejo, ela responde a comandos externos, sendo jogada de um canto a outro da sala, subjugada ao sistema que opera seu movimento. O maior dos fardos não é, no entanto, o peso que carrega em seu próprio corpo, mas o que impõe à natureza, da qual é parte e parcela indissociável. Daí considerar sua condição incerta quanto à origem da própria alienação, especialmente por desconhecer onde começa e termina o desejo que faz de si a única espécie entre os viventes que ameaça o mundo enquanto corrompe a si mesma.

O curioso, neste jogo de imposições e “podres poderes”, é que, ao tentar se sobrepor ao todo e dominá-lo, a figura se mostra menos soberana do que vítima da própria violência. Neste contexto, Fúria faz sua aparição como escultura com movimento de alerta e revolta. Em contraste com o corpo tombado, as galhadas se erguem em gesto insurgente, como se encarnassem uma presença que resiste e rompe silêncios.

Outra série que integra a montagem de Fardo-Fúria indica as conversas ininteligíveis que passaram a ocupar o artista em séries como Dialética Binária e Fragmentos do Inferno. Em duas dessas esculturas, realizadas com materiais de uso cotidiano, o artista relaciona delírio e desastre à maneira como a vida coletiva é manipulada por sistemas que operam a saturação de estímulos e a diluição da autonomia com rotinas normativas de algoritmos. No mesmo período em que realizou as obras, o artista escreveu: “É da natureza humana humanizar o inerte e coisificar a vida. Quantificar movimento em caloria. Sentimentos em enzimas. Tempo de vida em rendimentos. Rendimentos em alegria.”

Enquanto parte considerável do humano coisifica a vida e se aliena do próprio gesto que aprofunda o buraco onde habita, as esculturas de Fardo-Fúria trazem à tona vínculos que conectam corpo e desejo. Ao final, o conjunto de obras reconhece que à prática artística não cabe oferecer saídas ao cenário distópico vivido com assombro. Antes, suas proposições permitem desvios que interrompem o automatismo de hábitos e reconhecem o peso insuportável que cada corpo carrega em virtude de hábitos transformados em processos culturais automatizados. Um peso feito de repetições que, naturalizadas, tornam-se tradições forjadas na omissão, embaladas pela conveniência e pela homogeneização do sentir.

Texto produzido na ocasião de Diego de los Campos – Fardo-Fúria

Centro Cultural Veras, Florianópolis. 24/05/2025 – 02/08/2025 

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