Quando o ecoar de ritmos coletivos impulsionam movimentos emancipadores, experiências e trocas de saberes que se proliferam, diz-se que esta é uma comunidade de ressonância. De igual modo, quando o narcisismo dá lugar a práticas que fortalecem os elos comuns entre cultura, natureza e transcendência, é possível comungar três comunidades que derivam de tais esferas do real. Promover as invenções da humanidade, gerando ressonâncias diagonais, é atributo da cultura. À natureza cabe produzir aquelas horizontais, que colocam as múltiplas formas de vida em relação. A ressonância vertical ocorre quando a comunidade indaga e experiência os enigmas do tempo, do cosmos e da divindade. “A crise atual da comunidade é uma crise de ressonância”, aponta Byung-Chul Han, a quem devo algumas das ideias relacionadas com a cena artística contemporânea, cujo corpo de obras posto em diálogo participa da manifestação do Veras.
Confrontada ao cenário de crises, a arte funciona como programadora e receptáculo de procedimentos que contribuem para a origem de relações ressonantes. Mobiliza o encontro de diferenças, a “coesão simbólica” e a leitura crítica, sendo, como os rituais, procedimentos “estabilizadores da vida”. É o lugar da incorporação, do ensaio entendido como processo de vida, da visão ampliada sobre o mundo visível e inconcebível. É ponto de confluência, a um só tempo, de justiça social, educação e espiritualidade. A crise da comunidade, portanto, deriva de mecanismos que anestesiam o desejo, que adestram o sentir, desprezam a capacidade de revisar memórias e anulam o convívio com a biodiversidade e a esfera transcendente.
Neste contexto, o conjunto de obras com o qual nossa comunidade inicia seus primeiros diálogos no Veras prescinde de relações seletivas. Trata-se, antes, de diálogos de longo fôlego e de alianças em favor de uma construção coletiva. A finalidade da empreitada consiste em resgatar soluções capazes de contribuir com a redefinição de futuros, fortalecendo culturas ativistas, éticas e espirituais. De fato, toda vez que a prática artística faz surgir comunidades não subordinadas à produção e ao consumo desenfreados, ela promove reflorestamentos mentais e prolifera a eficácia da política fundada sobre a gentileza e a não violência, “exercícios experimentais” que possibilitam pluralizar a humanidade e revisar os estigmas derivados de imaginários discriminatórios.
Diretor do Centro Cultural Veras: Josué Mattos
Ficha Técnica:
Artistas: Albano Afonso, Alan Adi, Ale Mazzarolo, Ana Sabiá, André Nacli, Anna Moraes, Antonio Malta Campos, Arnaldo Antunes, Bené Fonteles, Bettina Vaz Guimarães, Bruno Vilela, Cildo Meireles, Clara Fernandes, Claudia Hamerski, Constance Pinheiro, Cyntia Werner, Dalton Paula, Daré, Diego de los Campos, Efe Godoy, Feco Hamburger, Fê Luz, Flavia Duzzo, Fran Favero, Gugie, Guto Lacaz, Guy Veloso, Hugo Mendes, Ilca Barcellos, Isabela Prado, Ivan Grilo, Jaime Lauriano, Janaína Corá, Jan Mo, Janor Vasconcelos, João Castilho, Jorge Menna Barreto, Julia Kater, Juliana Hoffmann, Kamilla Nunes, Kim Coimbra, Laura Belém, Laura Gorski, Leticia Cardoso, Lívia Aquino, Luciana Petrelli, Marcia Xavier, Maria Luiza Amorim, Mariana Palma, Maritza Caneca, Marlene Stamm, Mauro Restiffe, Miguel Penha, Mônica Nador + Jamac, Paulo Pjota, Pedro França, Pedro Varela, Raquel Stolf, Regina Silveira, Renata Cruz, Renata Pelegrini, Ricardo Barcellos, Rodrigo Bueno, Rodrigo Torres, Romy Pocztaruk, Rosana Paulino, Roberto Freitas, Rubens Oestroem, Ruchita, Samuel Casal, Sérgio Adriano H, Sandra Cinto, Shirley Paes Leme, Soninha Vill, Thiago Martins de Melo, Tony Camargo, Túlio Pinto, Vinícius Flores, Vitor Cesar, Willian Santos, Yara Guasque.
Curadoria: Josué Mattos
Desenho sistema expografia: Thaisa Kleinubing
Execução sistema expografia e montagem fina: Murilo Linhares
Assistente: Romeu Melz Jr.
Comunicação: Lu de Moraes
Identidade visual: Rafael Gaspar Leal
Coordenação geral: Elisabete de Araújo e Cibele Farias
Assistente: Gabrieli Raulino Leal
Produção executiva: Antônio Moser Cabral